Bolsonaro sai vencedor no embate com Moraes? 2b6w4k
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Assim como fez com os outros que se apresentaram, o ministro do STF deu total liberdade para que o ex-presidente falasse como quisesse; Bolsonaro, experiente e matreiro, não deixou ar a oportunidade

Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro se enfrentaram nesta terça (10), em um dos embates mais aguardados nos últimos tempos. O resultado dessa audiência poderá influenciar o futuro do país. Se Bolsonaro for inocentado, talvez possa concorrer às eleições de 2026. Se for condenado, dependendo do resultado, poderá ou não ter condições de indicar um candidato com chances de vencer o pleito.
Parecia uma produção de remake. Faz exatamente oito anos que o Brasil aguardava com a mesma ansiedade um confronto eletrizante: estariam frente a frente o então juiz Sérgio Moro e Lula. Moro era a grande estrela do país. Em todos os lugares arrancava aplausos de forma entusiasmada. Por onde asse, as pessoas faziam reverência: nos eventos, nos aviões, nas entrevistas.
Faltava prender Lula p4y30
Afinal, Moro havia conseguido traduzir em seus atos o que boa parte da população desejava: pôr atrás das grades gente poderosa, que até então ficava fora do alcance da justiça, por mais graves que fossem seus crimes. Havia esperança de que dias melhores estavam no horizonte. Para ar a régua e fechar a conta faltava, entretanto, a pá de cal: prender Lula.
Em maio de 2017 havia chegado o grande dia. Com provas robustas, o juiz da primeira instância tinha elementos suficientes para encurralar o ex-presidente. Tudo transmitido pela televisão, como se fosse um espetáculo. A cena estava preparada para um final esperado.
As opiniões foram divergentes d2961
O juiz não se alterou em nenhum momento. Falou de forma clara, pausada, tranquila, dando ao depoente a oportunidade de se expressar da maneira como julgasse conveniente. Para alguns, os fatos eram evidentes, tanto que, após a condenação, ao recorrer em segunda instância, feita a análise dos desembargadores, a pena foi aumentada. Como não poderia deixar de ser, as opiniões favoráveis e contrárias surgiram em todos os debates.
Esta semana, o filme ressurge com nova roupagem e outros protagonistas. Desta vez, no lugar de Moro estava o ministro Alexandre de Moraes e a posição de Lula foi ocupada por Jair Bolsonaro. A expectativa, todavia, não era diferente.
Começaram nervosos 6u1u6b
O país ficou na frente dos televisores e dos smartphones para assistir ao grande duelo. Para colocar ainda mais combustível no fogo, Bolsonaro convocou a população para que assistisse ao seu depoimento. Todos se perguntavam a respeito do comportamento que teria e como seria tratado pelo ministro.
Tanto Moraes quanto o ex-presidente iniciaram seus pronunciamentos com sinais claros de nervosismo. O ministro com o semblante fechado, medindo as palavras e tentando demonstrar a austeridade do momento. O depoente se expressou com a voz presa na garganta, tirando e colocando os óculos, como se não soubesse o que fazer.
Bolsonaro teve seu momento palanqueiro 2i82x
Dez minutos depois, com a adrenalina devidamente metabolizada, a fisionomia se desanuviou, a voz se soltou e o discurso fluiu, embora as palavras continuassem vigiadas. Assim como fez com os outros que se apresentaram, Moraes deu total liberdade para que Bolsonaro falasse como quisesse.
Bolsonaro, experiente e matreiro, não deixou ar a oportunidade. Sabendo que estava sendo assistido por boa parte da população, incluiu no contexto de suas respostas informações relevantes sobre as realizações de seu governo, em contraponto aos desmandos da gestão atual, sem mencionar o nome de Lula, evidentemente.
Momento bem-humorado bx5q
Respondeu a todas as questões formuladas com firmeza e convicção. Em certo instante, chegou a ser hilário. Pediu licença ao ministro para fazer uma brincadeira. No mesmo tom da pergunta, Moraes disse que ele é que sabia, e que, talvez, fosse mais apropriado perguntar ao seu advogado.
Bolsonaro então ironizou: perguntou se o ministro não gostaria de se candidatar como vice dele nas próximas eleições. Moraes sorriu e respondeu que declinava do convite. O que pareceu ser apenas um humor fora de hora e inadequado para aquela situação pode ser analisado por diversos ângulos.
Parece não ter sido por acaso 39564v
Com esse convite, Bolsonaro deixou claro que ainda pretende concorrer às eleições de 2026, embora esteja agora inelegível. Demonstrou também que não é uma pessoa vingativa, pois, ainda que fosse em tom de troça, abria espaço para a participação do “desafeto”. Além disso, escancarou para o público que se sentia tão à vontade com sua inocência a ponto de brincar naquela circunstância.
Como disse Alain, em suas considerações sobre a felicidade: “Se, por acaso, tivesse de escrever um tratado de moral, poria o bom humor na primeira fila dos deveres.” Foi mais um episódio histórico da nossa política. Bolsonaro ou quem ele indicar já estão prontos para concorrer. Muitos rounds virão pela frente. Que toquem o gongo, pois os adversários já estão saltitantes no ringue.
Independentemente da posição política de cada um, o episódio pode ser visto como uma marca decisiva para a democracia: um ex-presidente depõe diante de um ministro da mais alta corte do país. O que será feito desse momento é o que definirá os próximos capítulos. Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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